O modal dutoviário no comércio exterior e a indústria de óleo e gás brasileira

O modal dutoviário tem recebido mais atenção recentemente em função da alta procura por óleo e gás provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. 

O conflito reaqueceu disputas geopolíticas e readequou o xadrez da compra e venda destes produtos, usados nos transportes, na geração de energia e em muitos outros setores da economia.

Estes são produtos que se mantém constantemente valorizados com a evolução das economias e o crescimento e expansão das populações, cidades, indústrias e negócios, e que garantem às nações produtoras um alto volume de negócios que levam a um saldo positivo nas contas, mas que ficaram ainda mais escassos e valiosos em função do conflito nos países do leste europeu.

Por representarem produtos perigosos e potencialmente prejudiciais no contato com o meio-ambiente e os seres humanos, seu transporte é comumente realizado por meio do modal dutoviário, ou seja, por meio de dutos.

Porém, este ainda é o modal menos utilizado no Brasil e em muitos países em função de sua baixa capilaridade e dos altos riscos ambientais envolvidos.

Vamos conhecer um pouco mais sobre o modal dutoviário e sua utilização?

O que é dutoviário

O transporte dutoviário é aquele realizado por meio de dutovias, ou seja, os dutos. Eles são grandes tubos estruturados de forma a garantir segurança e fluidez no transporte de produtos como líquidos, produtos químicos, óleos, gases e minérios. Além disso, o transporte por meio de dutos também pode ser utilizado em médias e pequenas distâncias, por exemplo, dentro de indústrias e empresas. Seu transporte é realizado por meio de pressão ou arraste.

Existem alguns tipos de dutos: os subterrâneos, os aquáticos, e os que passam por cima da terra.

A ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestres) classifica os dutos em 3 diferentes tipos:

Oleodutos, cujos produtos transportados são, em sua grande maioria: petróleo, óleo combustível, gasolina, diesel, álcool, GLP, querosene e nafta, e outros.

Minerodutos, cujos produtos transportados são: sal-gema, minério de ferro e concentrado fosfático.

Gasodutos, cujo produto transportado é o gás natural.

Mas existem ainda dutos para o transporte de carvão mineral (os chamados carbodutos), bem como para transporte de variados produtos, como água, cerveja, vinho, entre outros (os chamados polidutos).

Transporte dutoviário vantagens e desvantagens

Assim como todos os demais tipos de transportes, o transporte dutoviário envolve vantagens e desvantagens cujo peso deve ser avaliado a partir do tipo de operação e de produto transportado. Produtos com alto valor agregado e muito visados por quadrilhas são opções interessantes para o transporte dutoviário, desde que seja possível o seu transporte por este tipo de modal.

Entre as principais vantagens do modal dutoviário estão:

• Transporte de produtos em longas distâncias;
• Baixo custo operacional;
• Baixo risco de sinistros e furtos – apesar deles existirem, são em volumes muito menores do que o transporte rodoviário, por exemplo;
• Indicado para distribuição entre Países que não possuem fronteiras terrestres;
• Indicado para o transporte de produtos com alto volume de mercadorias; 
• Indicado para o transporte de produtos com alto valor agregado ou que representam um alto risco à sociedade, como óleos e gás natural;
• Possibilidade de funcionamento continuado 24h por dia.

O transporte dos produtos que usualmente são distribuídos por meio de dutos costuma ser um transporte que envolve bastante riscos, sejam eles riscos ambientais, relacionados a acidentes, ou de perdas financeiras em função de vazamentos ou outros incidentes. Entre as principais desvantagens deste tipo de modal, estão:

• Baixa capilaridade para a distribuição por todo o País;
• Baixa flexibilidade para alterações de rota (limitado à infraestrutura fixa dos dutos);
• Investimento inicial elevado;
• Dificuldade para instalação de novas rotas com dutos;
• Risco de intervenção de terceiros;
• Risco de acidentes ambientais.

Transporte dutoviário no Brasil

O Brasil é um dos Países com maior força na indústria do petróleo no mundo, mas apenas 4% dos transportes em território nacional são realizados por meio do modal dutoviário, segundo estimativas da ANTT.

O País tem condições de conquistar muito mais espaço neste tipo de transporte, já que somos também uma potência em energia de baixo carbono, ou seja: um dos Países que menos gera emissões de carbono na produção de nosso petróleo, característica alinhada com os acordos ambientais entre as grandes nações, conferências globais do clima e necessidades latentes da agenda ESG.

Segundo o Presidente da Petrobras, nosso petróleo é produzido com 40% menos emissões de carbono por barril do que a média do restante do mundo.

China e Estados Unidos estão entre os principais parceiros comerciais do Brasil para a compra e venda de óleo e gás. Como já mencionamos em outro artigo recente, em 2022, os óleos brutos ou óleos combustíveis de petróleo foram o segundo item mais exportado do Brasil.

De acordo com dados de 2019, a China recebe cerca de 65% das exportações de óleos brutos de petróleo do Brasil, e os Estados Unidos, 13%, sendo o maior estado exportador do País neste tipo de produto, o estado do Rio de Janeiro. 

Apesar de enviarmos muito petróleo bruto aos Estados Unidos, os combustíveis utilizados no Brasil são, em grande parte, refinados por lá e importados de volta.

Outro importante parceiro que utiliza o transporte por dutovias é um vizinho nosso. O Brasil possui relações amplas com a Bolívia no que diz respeito ao comércio de gases, por meio do Gasoduto Brasil-Bolívia, considerado o maior da América Latina e um dos maiores do mundo. Entre os países que também recorrem ao gás natural boliviano nos meses mais frios do ano está também a Argentina.

Europa, Oriente Médio e Estados Unidos são importantes referências no que diz respeito ao transporte dutoviário, e podem servir de exemplo ao Brasil no que diz respeito à importância dada e investimentos destinados a esta malha, com os objetivos de fortalecer cada vez mais a indústria de óleo e gás brasileira.