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Rússia x Ucrânia: guerra continua afetando as cadeias de suprimento internacionais

12/12/2022

A guerra entre Rússia e Ucrânia parece se dissolver, mas um acordo de paz ainda não foi decretado oficialmente, portanto continua rendendo assuntos delicados e problemáticos. No ponto de vista do comércio exterior, sensível aos movimentos dos mercados europeus, a situação permanece tensa e ainda traz consequências negativas para as cadeias de suprimento internacionais, afetando, também, o preço final dos produtos para os consumidores e a manufatura de muitas mercadorias.

No caso da Letônia, por exemplo, que exporta componentes para provedores de internet no Brasil, as atividades de exportação de insumos não estão sendo realizadas desde fevereiro devido às dificuldades instauradas pelos conflitos, causando um arrefecimento deste mercado. Hoje iremos explorar este e outros pontos que convergem para as expectativas para os próximos meses. Acompanhe!

Como as cadeias de suprimento internacionais são afetadas pelo conflito na Ucrânia?

O maior problema causado pela guerra entre Rússia e Ucrânia está na dificuldade de transporte de mercadorias e obtenção de matéria-prima necessária para a fabricação de produtos. Esse contexto leva à escassez de alguns itens, elevando seus preços de consumo no mercado.

Uma outra maneira das cadeias de suprimento internacionais estarem sendo afetadas é através do comércio global, pois muitas empresas desses dois países que faziam negócios entre si, estão com grandes dificuldades devido à deterioração da relação entre seus respectivos governos.

O conflito também refletiu no preço do petróleo, que aumentou consideravelmente nos últimos meses, já que a Ucrânia é um importante “país de trânsito” para o petróleo russo. Também é importante lembrar que a guerra tem deslocado milhares de pessoas de suas casas, causando danos totais às infraestruturas e dificultando operações de empresas, resultando em uma diminuição drástica da atividade econômica do país ucraniano (o que leva ao desemprego e pobreza da população).

Quais são os impactos do conflito no comércio global e quais são as consequências?

Rússia e Ucrânia são grandes fornecedores mundiais de certos produtos, por esse motivo são capazes de influenciar suas variações de preços. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou vinte um produtos dos quais ambos os países obtêm uma considerável parcela no comércio mundial. São eles:

Adubos potássicos, nitrogenados, amoníacos e outros; óleos brutos de petróleo; óleos e outros produtos de hulhas; hulhas; trigo e mistura; cevada; milho; semente de nabo; ferro (bruto); alumínio (bruto); níquel (bruto); platina; produtos semimanufaturados e laminados planos de ferro e aço; óleos de girassol, de cártamo ou de algodão; elementos e combustíveis para reatores nucleares e madeira serrada ou cortada (superior a 6mm).

No ano passado, esses vinte e um produtos corresponderam a 15,2% das importações brasileiras vindas da Rússia e Ucrânia. Considerando as nações participantes do G20, o Brasil se destaca por ocupar a posição de maior dependência dos produtos exportados por ambos os países. Entre 2017 e 2021, o país se fixou na quinta posição no ranking de dependência direta de importações originárias de países em conflito, ficando somente atrás da Turquia, UE, China e Arábia Saudita.

No viés das importações do Brasil vindas de todas as origens, os produtos acima citados responderam por 11,1% do total importado pelo país no último ano, ficando em sexto lugar no ranking de dependência indireta do G20.

Quanto a outros países, ainda:

  • A Europa obtém cerca de 40% do gás natural da Rússia, o que a torna extremamente vulnerável. Desde 2021, o preço já aumentou dez vezes;
  • A Ucrânia fornece mais de 90% do néon para os EUA, gás componente dos lasers usados na fabricação de chips;
  • Em contrapartida, a Rússia fornece cerca de 35% do paládio aos EUA, metal raro usado na criação de semicondutores;
  • Rússia e Ucrânia juntas correspondem a 29% do mercado mundial de milho e trigo. A interrupção dessas cadeias de suprimento internacionais causa, atualmente, escassez de matérias-primas e alta nos preços dos alimentos à base de milho e trigo, como massa e cereais, além de ração animal;
  • O mercado global de fertilizantes se vê enfraquecido devido ao corte de exportação de minerais e produtos químicos pela Rússia, causando uma grande ruptura comercial.

Qual o posicionamento dos países até agora?

Os Estados Unidos e seus aliados, do Grupo de Coordenação dos Países Desenvolvidos, vêm intensificando seu boicote à Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC), suspendendo o  país do grupo. Diversas retaliações foram feitas sobre Belarus, como por exemplo sua adesão à OMC sendo boicotada pelas outras nações membros do grupo. Em contrapartida, Brasil, México, países africanos e asiáticos se abstiveram de assinar a declaração conjunta proposta pelo grupo.

EUA e seus aliados ainda congelaram aproximadamente R$ 300 bilhões de dólares em reservas internacionais russas e concederam sanções à indústria do petróleo e gás natural, levando a um choque global dos preços desses produtos. Como resposta, o governo russo passou a exigir o pagamento das importações de petróleo e gás em rublos, dificultando a venda dessas commodities para países europeus como Alemanha.

Sob temor de uma crise de escassez mundial de alimentos, a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala, expressou bastante preocupação com a ruptura das cadeias de suprimento internacionais e com as restrições às exportações de grãos e óleos vegetais. A economista,  que previu uma queda de fluxos no comércio global em 2022, estende a atenção para o primeiro semestre de 2023. Este ano, o preço mundial dos alimentos sofreu uma alta de 20%, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura.

Quais produtos brasileiros registraram maior alta de preços?

O Brasil já importou quase R$ 20 bilhões e sete desses produtos correspondem a 91% do valor. São eles: petróleo, hulhas, adubos potássicos, nitrogenados ou de outros tipos, trigo e alumínio. Considerando esses produtos mais relevantes, a hulha foi a que mais sofreu com a elevação de preço, registrando uma alta de R$ 78,3% no preço importado pelo Brasil no primeiro semestre de 2021.

Outro expressivo aumento de preços foi nos fertilizantes: 42,8% em adubos nitrogenados, 51% em adubos potássicos e 68% em outros adubos. Trigo também faz parte da lista, com um aumento de 41%; petróleo bruto com aumento de 31,2% e alumínio bruto com 24,2%.

Segundo a Confederação Nacional da Indústria, “a importância desses produtos para a economia como insumos de cadeias produtivas e sua alta participação nas importações do país contribuíram significativamente para acelerar a inflação no país”.

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